Histórico

Não faz muito sentido eu chegar de mansinho falar uma porção ou duas de coisas legais pra você, sorrir calmo e esperar que você vá se apaixonar por mim. Existe tanta coisa rolando sem eu saber, tanto sentimento escondido. É mais fácil virar seu psicólogo do que seu amor. Ao menos acho que com psicólogos você ainda não se decepcionou, em compensação, com caras que surgem assim como eu surgi, incontáveis vezes de noites encharcando o travesseiro.
Meninas como você me fazem perceber que não existe fórmula da conquista. Na verdade, a própria palavra “conquista” já é meio forte demais. Afinal, quem conquista toma para si, mas você não é um objeto que tem donos. Sendo assim, decidi te olhar, assim de longe, só para entender o que é que eu estou fazendo com você, com a sua vida, com o seu amor e a sua paz de espírito. Quero causar o menor estrago possível, considerando as chances de eu fazer uma merda sem querer.
Esse teu jeito displicente de deixar a porta da tua vida aberta pra quem quiser entrar me deixa um pouco perturbado. Fico imaginando quantos outros não tentaram o que eu estou tentando. Quantos deles não fizeram a coisa errada, a escolha errada, tudo errado. Não é muito inteligente querer entender uma mulher sem saber alguma coisa sobre o passado que a formou. E esse é o segredo do milênio que esses teus olhos impressionantes me trouxeram.
Não dá para negar o histórico. É fundamental lembrar que, quando conhecemos alguém, ela já conheceu centenas de outras pessoas antes e, muito provavelmente, enquanto estreita laços com a gente, faz o mesmo com mais quatro ou cinco fulanos novos como nós. A novidade de gente na nossa vida é sedutora e mente quem diz que gerencia um amor de cada vez. Todo mundo tem um amor antigo mal resolvido, uma história que poderia ficar séria se os dois fossem mais corajosos, um outro rolo com o selo de “quando um não quer, dois não namoram” e por aí vai.
Quando você chega na vida de alguém existe tanta gente mais importante antes que chega a ser desmotivador se pensar friamente. É preciso muito mais do que coragem para se acotovelar no meio dessa multidão de gente que já ganhou a confiança que você ainda está buscando. Nós nunca aparecemos na vida de alguém como primeira opção, nem quando nos dizem que somos. Não somos, nem em sonho, a melhor opção de alguém, porque entramos lá atrás na fila de prioridades.
Talvez sejamos os mais engraçados, ou os mais interessantes naquele momento, mas escala de importância é uma coisa que quem gerencia é a vida, não o indivíduo que vive. É leviano pensar que o que passou, passou, e não volta mais. Cansei de ver amiga minha quebrar a cara porque a ex-namorada de algum carinha resolveu surgir do bueiro e elas passaram de peguetes a ouvintes de histórias de amor que não deram certo.
Não desconsidere o histórico, não descarte a possibilidade de você ser mais interessante do que desejável e, quando essa coisa nova que você tiver não for mais tão incrível, teu novo investimento te colocar na geladeira. Considere-se com sorte, mas não o melhor, nem o mais desejado. Tudo muda toda hora e outras pessoas podem aparecer, assim como você surgiu do nada também. Os sentimentos que alguém guarda para si em relação a pessoas que nós nem conhecemos é muito mais destrutivo para nós do que para eles.
Mas por desencargo de consciência, não vou descartar o sorriso, o bom papo, as coisas bonitas no ouvido e os comentários sinceros sobre a roupa, o brinco, o cabelo e o perfume. Existem coisas que, se ditas na hora certa, podem mudar um cenário de meses em minutos e, por uma mulher como você, até vale a pena esperar a fila andar, ou tentar ser brasileiro e furar todo mundo para ficar mais lá na frente, lá na grade, lá no gargalo assistindo o show que é a sua vida.

http://memoriasutopicas.wordpress.com/2011/12/20/historico/

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