Era uma vez ... fim


Fantasmas sempre voltam. Doces. Absurdamente doces. Naquele dia eu prometi que não tomaria banho antes, que não me importaria com a minha sombrancelha, que a falta de tempo não me deixa fazer. Também não tem problema se minha unha não está com aquele tom de vinho que ele gosta. Não faz diferença se a calcinha combina com o sutiã ou se minha blusa tá meio molhada, deixando claro que fui ouvir toda aquela vida que ele tinha pra dizer depois do boxe, apenas encaixando na minha santa rotina. O que pra ele era muito mais que aquilo, pra mim era só aquilo e aquilo mesmo. Não dessa vez baby. Não dessa vez. Não paro mais meu mundo por você. Fui descabelada, unha e sombrancelha por fazer. Roupa sem graça. Mochila. Não havia como caracterizar mais o meu desleixo. Tava ótimo. Sentei e ouvi. Ouvi e ouvi mais. Tudo que ele queria dizer, todo o amor do mundo que ele queria me dar. Ouvi o pedido de desculpas, que antes tão esperado, agora não passava de um pedido de desculpas de alguém que me esbarrou no metrô. Ouvi dos medos, dos sonhos, ouvi a promessas, pasmem. Ouvi e ouvi e ouvi. E pra alcançar tanta maravilha, basta largar meu namorado. Simples assim não? Pois é. Mas AGORA não dói mais. Aquelas noites em que eu não dormi, por que Lenine cantava no meu ouvido, mesmo sem som algum, agora são tuas. São só tuas. Divirta-se.



Meu sorriso e teu caminho.



Então tu me pede pra tirar meu sorriso do teu caminho.
Não, na verdade você não pede. Você nunca pede. Voce grita, esbraveja, ameaça nunca mais falar comigo. Onde já se viu ser tão feliz assim?
Coloco toda a minha felicidade dentro do armário. E olha meu bem, não é pouca coisa não. Mas ela saí, como sapato novo comprado em liquidação. Nunca cabe em canto nenhum. Minha felicidade não tá acostumada com toda aquela vida mal resolvida dentro do armário. Tá certa ela. O amário será doado.
É só felicidade e paz e mansidão e alegria e sorriso e amor e vida. Muita vida. Toda vida.
Até meu cabelo tá melhor.
Então você grita, berra, faz escândalo, se joga na frente do carro.
Eu passo por cima de você.
Eu e toda minha felicidade.
Mas é claro, você não morre, nunca morre.
É preciso estar vivo pra me assombrar.
Mas não vivo de mais. Só um pouco.
Zumbi.
É, zumbi.
É isso que és.
Mas agora honey, já dizia vovó, vá chorar na cama que é lugar quente.
A sua dor é só sua.
Eu não vivo mais o sofrimento de ninguém.

Por que agora o Lenine é só o Lenine.
E toda aquela inquietação no peito se transformou em saudade.
Saudade que não é de você.


By Casa da mae Joana