Mas que pelo menos seja dessa vez.




Nós ainda não terminamos nossa conversa, mas também que adianta se nunca sabemos onde ela vai parar?
Quando você não está no seu canto calado, me esmurrando com seus olhos, e eu, tagarela, falando sobre coisas bagunçadas, gesticulando nervosa, estou eu calada assustada enquanto você esbraveja raivoso.
Eu queria me deixar tomar pela razão e não ouvir a merda do coração ou vice e versa sabe? Mas coisas ruins me perturbam tanto a cabeça, e nunca consigo me esquecer disso.
Eu queria pedir desculpas por todas as vezes que fugi, queria obedecer à parte de mim que te ama loucamente e pedir desculpas por tudo que fiz, por tudo que não fiz, e por tudo que ainda vou deixar de fazer também.
Mas melhor não dizer, sugerir quem sabe? Mas para que? Aquele pesadelo sempre vem depois do sonho do perdão.
Pensando racionalmente foi melhor sumir, não te ver mais, mesmo amando posso tranquilamente tomar essa decisão, viver amando e sofrendo ou sofrer por não viver amando? De qualquer forma é sofrer mesmo, então viver em paz é a solução.
Pensar que “na maioria das vezes acho que amor é apenas o nome que dei a um barulho que não sai da minha cabeça”.
Enquanto me fecho e mantenho minha fama, aqui dentro de mim, me coloco em um mundo onde você está aqui, sentado no sofá me olhando com aquele sorriso de quem pensa “que menina boba”. Por mim ficaria aqui, olhando você com esse lado doce que me olha apaixonado e só assim vivendo em paz, e esquecendo todos os outros problemas dessa vida louca.
Já estou a um tempo sem me surpreender com nada, mas você me persegue com seu olhar e se faz de inocente fingindo não perceber que desejo te ver, falar, tocar.
Odeio suas atitudes estupidas, sua ironia massacrante, odeio sua dissimulação e suas palavras de baixo calão, odeio por ser tão diferente de todos os mortos que amei, te odeio por vir bagunçar as minhas traças, me preencher por inteira e me deixar ser essa mulher tão incompleta que sou hoje.
Eu me sentia bem melhor sem esperar nada, era bem melhor ser amada do que amar, oferecer ao invés de esperar, esperar e esperar.
Mas você me carrega, não consigo dizer não, e quando mal percebo já estou consumida de você, consumida de tudo que mais amo e de todas as coisas que eu odeio.
Queria viver as coisas antecipadamente e já ver todo o enredo que está por vir, facilitar a desilusão, e evitar provar o bom, evitar apostas, sonhos e esperanças.
É obvio, até seria mais fácil me desvencilhar de você antes de mais um obstáculo, mas não consigo.
Ok, a mágica louca acontece e nos encontramos por acaso, cruzamos olhares improváveis, sentimos a presença um do outro, é até capaz de perdidos na correria do dia a dia te ver sentado no banco da estação enquanto penso em você no banco do trem, mas nem mesmo essa mágica é capaz de nos libertar de nós e dos nossos demônios, não somos nada além de um laço bonito e frágil, que se desfaz com um simples puxão.
O laço se desfaz, mas a fita fica lá, destruída, rasgada, torcida. Eu não consigo esquecer seu rosto, me acostumei com esse seu jeito de viver como se a vida tivesse acontecendo sem você, e as coisas mais bobas não te graça sem você.
Sendo assim, como posso fugir. Você não me deixa em paz, eu sigo meu rumo e você com esse olhar que me mata, o sorriso desajeitado e esse cheiro filho da puta vêm me perturbar. Mesmo tentando não lembrar, você pede para entrar, não adianta nem chamar os bombeiros, sempre deixo você subir.

Então, lá vamos nós, mais uma vez, seja o que for. Mas que pelo menos seja dessa vez.