Peço a Deus pra que ele vá embora mudo.


Eram mais de três.
Ele deu sorte.
Tomei banho, preguiça e Saramago. Não teve como sair.
 
Eram mais de três.
O porteiro avisou. Era ele
Não deu tempo de pedir pra dizer que eu mudei, que morri ou que estava na Tailândia.
Me limito a um "pode subir".
Falta a voz. Maldito efeito surpresa.
 
Ele sobe.
Nesses dois minutos que o separam da porta de casa, enquanto escuto o barulho do elevador subir, penso em como agir, o que falar, não falar e se a calcinha é preta. Ele gosta de calcinha preta. Troco.
 
Ele entra e me beija. E me beija mais. E me beija mais.
Solta meu cabelo.
Tira minha calcinha. Agora preta.
Tudo isso sem oi.
Sem tudo bem.
Sem como vai você.
Não há meias palavras,nem desculpas. Só amor.
Todo amor do mundo sempre.
E então ele daz o que tem melhor. O binômio.
Lingua e o que há embaixo das minhas saias.
Combinação perfeita.
Ele está de joelhos.
Me chupa, me chupa e me chupa mais.
E me chupa.
E de novo.
E mais.
 
Transamos.
Trepamos.
E fazemos amor.
Acho que pela primeira vez na minha vida eu rezei depois de gozar.
Peço a Deus pra que ele vá embora mudo. Do mesmo jeito que entrou.
Não quero lembrar que dormi com ele tantos dias, que procuramos apartamento na internet, que conheço a família inteira e os amigos, na posição de futura esposa, de mãe dos filhos dele.
Não, não quero lembrar disso tudo.
Pelo amor de Deus não.
Rezo de novo.
Me sinto uma herege.
Mas Deus tá de férias, de folga, ou de sacanagem mesmo.
 
Ele não só não vai embora como acende um cigarro.
Pede comida chinesa.
E rolinhos primavera pra mim.
Reclamo do meu biscoito da sorte que veio quebrado.
Sem me dar conta que o maior milagre da vida tá ali.
Deitado, fumando e mechendo no meu celular.

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